Questões Concurso Assembléia Legislativa - RN

O autor não seguiu qualquer princípio organizador ao elaborar a coletânea, porque a obra deveria ter a mesma configuração da vida: não autopsiada, não recortada.

Embora os heterônimos de Pessoa tenham assumido um lugar em sua existência cotidiana, o contrário não pode ser dito: a produção literária do poeta pouco revela sobre o homem.

Ao comparar seu trabalho com o dos especialistas e antologistas, Ruffato reconhece a pouca relevância e o caráter precário da obra que apresenta.

Desejando revelar o homem em sua vida verdadeira, a coletânea só pode conter textos não ficcionais, tais como cartas pessoais, bilhetes, documentos produzidos no contexto profissional etc.

A incorporação de versos em continuidade e em favor do que se afirmou antes sugere que os textos do poeta são capazes de revelar algo sobre sua outra vida, a verdadeira.

Para Ruffato, por mais fortes que eles fossem, os heterônimos de Fernando Pessoa, em algum momento, davam lugar ao homem essencial, despreocupado da relação com os outros e com o mundo.

De passagem, mas indelicadamente, o autor menciona a dificuldade que também Isa Pessôa tem em ser autêntica.

A descrição de uma cena corriqueira tem o efeito de reforçar que Pessoa tentava portar-se como homem comum, mas era levado, por seus compromissos profissionais, a fingir, dissimular.

O convite de Isa Pessôa é que despertou em Ruffato a ideia e o desafio de desvestir Pessoa de seus heterônimos.

A caracterização da leitura dos textos de Pessoa feita por Ruffato cria uma escala decrescente de atributos negativos associados à dinâmica da vida.

dispensa marcos temporais precisos para concentrar-se em subjetiva percepção daquele instante, em construção que reproduz a fórmula tradicionalmente encontrada no início dos contos de fadas.

pauta-se na demarcação de referências cronológicas, situando o acontecimento singular em estação específica do ano de publicação de Quando fui outro.

alia uma referência à época do ano à referência a uma condição climática, privilegiando o estabelecimento de uma certa atmosfera, em detrimento de uma certa cronologia.

mescla sensações táteis (frio) e visuais (claridade) para sugerir que o clima, sendo incomum, assemelhava-se ao acontecimento relatado.

promove criativa fusão entre tempo e espaço, marcando o caráter fictício de sua narrativa.

dada a intensa convivência, Ruffato pode afirmar que realmente conheceu o íntimo de Fernando Pessoa.

porque se tornou íntimo do poeta, Ruffato assimilou, tal como um filho, as contradições, as excentricidades, os desejos de Pessoa.

Pessoa é ficcionista diferenciado, já que os heterônimos não se equiparam a personagens de romances.

as ambições materiais de Ruffato foram despertadas já no primeiro encontro com o ficcionista.

a poesia de Pessoa, comparada ao processo de criação dos heterônimos, é menor e pouco original.

O uso da primeira pessoa do singular, aliado à descrição de sensações, sentimentos, impressões daquele que fala, confere ao texto o efeito de subjetividade.

O texto relata uma experiência pessoal para, a partir dela, defender a necessidade de examinar a vida dos escritores para poder medir o valor de sua obra.

Ruffato, nas entrelinhas, argumenta que não haveria alguém mais indicado do que ele mesmo para dar conta do desafio de desnudar o homem Fernando Pessoa.

O emprego de verbos como “abordar”, “espiar”, “desvestir” explicita que a intenção de Ruffato foi compor biografia polêmica e não autorizada de Pessoa.

A linguagem hermética e preponderantemente metafórica (a tarde mergulhada no para-sempre..., suas palavras grudaram, a máscara com que frequentaria o mundo) compromete clareza e a objetividade esperadas de um prefácio ou apresentação de livro.