Considere as orações abaixo. I. Devem haver muitos inter...
I- O verbo haver em locução verbal ele impessoalizará o verbo auxiliar, ficando ambos na terceira pessoa do singular: Deve haver muitos interessados no cargo.
III- Com sentido de ser, dizer a respeito ou consistir em alguma coisa, tratar-se, devido o sujeito ser indeterminado, então o verbo é conjugado na terceira pessoa do singular: Trata-se de problemas graves.
A estrutura sintática de uma oração em que há o pronome se pode trazer dúvidas quanto ao uso do verbo no singular ou no plural, principalmente quando houver a formação de locução verbal, que é a junção de dois ou mais verbos indicando uma ação só. O verbo indicador da ação é denominado de principal, e o outro, de auxiliar. É este que concorda com o sujeito em número, ou seja, se o sujeito estiver no plural, é o auxiliar que deverá ficar no plural.
É o que ocorre com a frase apresentada: há a locução verbal devem mudar; o verbo mudar é o principal, pois é o indicador da ação, e o verbo dever é o auxiliar, que está conjugado na terceira pessoa do plural porque o pronome se, denominado, nesse ambiente sintático, de partícula apassivadora, indica que o sujeito da oração é o substantivo regras, sujeito paciente, pois sofre a ação verbal: As regras devem ser mudadas por alguém.
O pronome se será denominado de partícula apassivadora quando acompanhar um verbo transitivo direto, que é aquele que indica que alguém pratica a ação sobre algo. O verbo mudar é transitivo direto, pois “quem muda, muda algo”. Por isso o adequado é o seguinte:
– Devem-se mudar as regras.
O verbo dever fica no plural, mesmo que o elemento agente, aquele que deve mudar as regras, seja singular. Quando houver partícula apassivadora, dir-se-á que a oração está na voz passiva sintética, e o verbo terá de concordar com o sujeito paciente.
Há algumas construções, no entanto, que enganam o produtor do texto. Por exemplo, na frase seguinte frase:
– Pretende-se mudar as regras.
Nessa frase não há a formação de locução verbal como à primeira vista parece haver. Há dois verbos autônomos; dois verbos indicadores de ação: pretender e mudar. Cada um tem seu sujeito e seu complemento.
A maneira mais simples de se observar isso é reescrever o período na denominada voz passiva analítica, como foi feito no final do segundo parágrafo deste texto: Devem-se mudar as regras é equivalente a As regras devem ser mudadas por alguém. Quando essa estrutura sintática for possível, haverá a formação de locução verbal. Observe, no entanto, que a segunda frase não permite essa estrutura sintática. Não é possível dizer que “Pretende-se mudar as regras” seja equivalente a “As regras pretendem ser mudadas por alguém”, pois não há locução verbal, e sim a formação de um período composto por duas orações.
A primeira oração, denominada de principal, é formada pelo verbo transitivo direto pretender (Quem pretende, pretende algo). O pronome se, que acompanha verbo transitivo direto, é denominado de partícula apassivadora, que indica que o sujeito sofre a ação do verbo: Alguém pretende o quê? Mudar as regras. Essa oração – “mudar as regras” – é que funciona como sujeito paciente do verbo pretender.
Quando o sujeito de um verbo for uma oração, ele terá de ser conjugado na terceira pessoa do singular, por isso pretender está no singular. Pretende-se mudar as regras não é equivalente a “As regras pretendem ser mudadas por alguém”, mas sim a É pretendido por alguém mudar as regras.
Devem-se mudar as regras é equivalente a As regras devem ser mudadas por alguém. Como o verbo ser, na passiva analítica, ficou no plural, dever, na passiva sintética, também terá de ficar.
Pretende-se mudar as regras é equivalente a É pretendido por alguém mudar as regras. Como o verbo ser, na passiva analítica, ficou no singular, pretender, na passiva sintética, também terá de ficar.
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